Ricardo Eletro e Insinuante anunciaram união na segunda-feira.
Negócio ainda precisa ser aprovado pelo Cade.
Laura Naime e Ligia Guimarães Do G1, em São Paulo - G1 - 30/03/2010
Especialistas avaliam que pode ser positiva para o consumidor a tendência de consolidação do varejo brasileiro, na qual redes tradicionais se unem formando grandes grupos, como aconteceu na segunda-feira (29) com a mineira Ricardo Eletro e a baiana Insinuante, que anunciaram a criação da segunda maior rede de eletroeletrônicos e móveis do país, e o Pão de Açúcar e as Casas Bahia, que se uniram em dezembro de 2009.
"É uma concorrência forte que está entrando num mercado concentrado de gente forte", analisa o ex-presidente do Cade e presidente da Latinlink Consultoria, Ruy Coutinho.
Ambas as operações ainda aguardam aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O empresário Ricardo Nunes, da Ricardo Eletro, e Luiz Carlos Batista da Insinuante anunciaram na segunda-feira (29)e a fusão das empresas durante coletiva no Hotel Unique, zona Sul de São Paulo. (Foto: Valéria Gonçalves/Agência Estado)
Segundo o professor da ESPM e sócio da consultoria Pesco, Frederico Turolla, a notícia da união entre Ricardo Eletro e Insinuante pode ser benéfica para o consumidor porque representa a reação de varejistas menores à fusão que concentrou Pão de Açúcar, Casas Bahia, Extra Eletro e Ponto Frio.
"É uma concorrência forte que está entrando num mercado concentrado de gente forte"
“Eu acho que a reação em que varejistas menores tendam a se concentrar para fazer frente ao poder de mercado da fusão anterior é importante. Eles têm que fazer um contraponto ao líder que agora se tornou o mais forte. Vai dar mais concorrência para o mercado”, afirma Turolla, que prevê que o movimento de união entre varejistas menores continue se fortalecendo.
“O que tende a acontecer no varejo é que seja um jogo de poucos e grandes jogadores”, diz Turolla.
O consumidor, no entanto, precisa ficar atento: pesquisar preços e comparar ofertas e opções de crédito é fundamental para se beneficiar da movimentação do mercado.
“O grande varejo está se concentrando mas é um setor muito competitivo, que faz muita concorrência um com o outro”, diz o ex-presidente do Cade.
Quando se ouve falar em fusões, o principal temor de quem compra é o da excessiva concentração de mercado: de que, com menos concorrentes os preços acabem subindo.
No caso da fusão da Ricardo Eletro com a Insinuante, no entanto, a avaliação é de que possa ocorrer justamente o contrário: unidas, além de representarem concorrência mais forte no mercado, as marcas ganham mais poder de barganha, o que abre espaço para oferecer preços mais baixos, além mais opções de crédito mais farto. Desde que, claro, essa seja a estratégia adotada pelas companhias.
“Acredito que essa concentração não vai forçar esse preço para cima, pelo contrário, vai forçar para baixo (...) Para o consumidor, o principal é o preço e as condições de pagamento. E a empresa grande consegue negociar bem com fornecedores e com as instituições financeiras, para fornecimento do crédito”, diz Lucas Coppeli, sócio da Vallua Consultoria e Gestão.
“A concentração não é problema, o problema é o abuso da posição dominante. Isso é que tem que ser calibrado pelos órgãos de defesa da concorrência”, explica o ex-presidente do Cade e presidente da Latinlink Consultoria, Ruy Coutinho.
Para Coutinho, além de agregar concorrência ao setor, a união entre a mineira Ricardo Eletro e a baiana Insinuante é mais positiva porque ambas são empresas especializadas em regiões diferentes – que já competiam pouco entre si.
A coordenadora da Pro Teste, Maria Inês Dolci, considera que o benefício dependerá do planejamento das empresas.
"Para o consumidor é uma opção a menos, e o consumidor só sai beneficiado se eles mantiverem a quantidade de lojas, se oferecerem preços reduzidos. Aí sim é revertido em benefício. Caso contrário são fusões que beneficiam somente os empresários", afirma.
A lei brasileira de antitruste determina qualquer fusão entre empresas que juntas detenham mais de 20% do mercado - ou em que uma das partes fature mais de R$ 400 milhões, precisa do aval do Cade para se tornar realidade.
Ricardo Eletro e Insinuante têm 15 dias úteis para apresentar a operação ao órgão.